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O Estado grande quebrou

O Estado cresceu descontroladamente; sua manutenção ficou caríssima; e esse monstro corporativo, que vê um fim em si mesmo, trata de avançar ainda mais sobre os salários e a renda dos cidadãos que o sustentam.

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Depois que o leite derrama sempre fica mais fácil identificar as causas da catástrofe; e os espíritos mais propensos a enxergar as coisas sem preconceito ou dogmatismo passam a apontar unanimemente os culpados (líderes, opções ideológicas, técnicas pouco eficientes de gestão, escolhas equivocadas na seleção de políticas de Estado, corrupção, circunstâncias adversas, etc.). 

Estamos exatamente nesse trecho da estrada, com uma aguda crise política e econômica, que lança trevas de incerteza no futuro imediato e atinge fortemente o bem-estar da sociedade. Em resumo: uma catástrofe para os que ficam desempregados, para os que perdem renda, para os desassistidos, para os inadimplentes e também para aqueles que se afligem com o recrudescimento inflacionário, com o sumiço dos investimentos ou com as ameaças de aumento descontrolado dos impostos. Nesse estágio, já se dissemina um diagnóstico predominante e mais compartilhado: O Estado cresceu descontroladamente; sua manutenção ficou caríssima; e esse monstro corporativo, que vê um fim em si mesmo, trata de avançar ainda mais sobre os salários e a renda dos cidadãos que o sustentam.

Mas, nem sempre as coisas foram vistas dessa forma. Para ser preciso, as coisas começaram a sair do controle ainda ao tempo da ditadura militar, na década de 1970. Esse crescimento anormal não era muito comentado e sequer observado pela maioria da sociedade. Criou-se uma dependência das pessoas em relação a essa super-máquina, que não cria dinheiro e nem produz valor, e cuja manutenção custa cada vez mais à nação. Somente agora, com a apresentação da assustadora conta junto com os seus efeitos perversos na vida dos cidadãos, o panorama passou a ser visto com mais objetividade por uma parcela maior da sociedade. Mas nem por todos, apesar do elevado índice de rejeição dos governantes. 

Nada como a análise de um exemplo histórico para ajudar na reflexão sobre o tamanho do buraco em que caímos. A cidade de Brasília é um símbolo perfeito do Estado brasileiro. Aliás, foi feita para que as nossas instituições públicas se exibissem em todo o seu esplendor, com palácios belíssimos, monumentos graciosos, sede de ministérios (naquela época eram apenas 17 prédios projetados para abrigar todos os ministérios e repartições importantes), além das outras estruturas funcionais que ainda não haviam sido acrescidas dos muitos e variados anexos e puxadinhos que vieram depois. 

Ninguém sabe direito quanto custou a construção de Brasília. E muito menos quanto custa atualmente a sua manutenção operacional. Os números que existem são muito controversos e chegaram a envolver, inclusive, estimativas do ex-Embaixador norte-americano, Lincoln Gordon, que declarou que os investimentos teriam custado cerca de US$ 1,6 bilhão, em dólares da época. Em moeda de hoje, essa quantia astronômica estaria próxima de US$ 100 bilhões, ou seja, mais de 6% do nosso enfraquecido PIB. Nunca é demais lembrar, que o polêmico déficit apresentado pela proposta orçamentária enviada recentemente ao Congresso Nacional seria, apenas, da ordem de 0,5% do PIB.

Como conclusão: se quiséssemos ou precisássemos construir uma nova capital hoje, para acomodar o nosso avantajado Estado e suas repartições, não teríamos recursos para nos desincumbirmos da tarefa. A nação apequenou-se e o Estado se expandiu descontroladamente nestes últimos 55 anos.
 *Rubens Menin Teixeira de Souza é fundador e presidente do Conselho de Administração da MRV Engenharia

 

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