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Rio Preto no Automóvel Clube

Fernando Marques – Jornalista, para a Gazeta de Rio Preto

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Convidado para escrever um texto sobre o aniversário da cidade, preferi como tema falar do clube número um da cidade, que como muitos clubes do interior passa por sua fase mais difícil, chegando ao ponto de pensar na venda de seu clube de campo, construído nos 11 alqueires de terras, doados pelo construtor Antônio  Lopes dos Santos, o “seu Toninho”.  Muitos eventos importantes da cidade se passaram dentro da sede do clube. Visitas de Presidentes da República, posses de prefeitos e deputados. Poderia ser cômodo e falar dos momentos históricos registrados nos anais. Mas preferi histórias que estão na memória e no imaginário de muitos rio-pretenses e aceanos. Como por exemplo, no corso do carnaval de rua da cidade, que descia a rua Bernardino e subia a rua Voluntários de São Paulo, quando ainda se  chamava Antônio Olympio. Os diretores preparavam um “carro alegórico”, puxado por bois, que fechava o desfile. Atrás, as mulheres da sociedade, muito bem vestidas e perfumadas. Aristides dos Santos, no alto de seus quase 100 anos de idade, conta-nos esta: “As mulheres dos diretores, políticos e da alta sociedade, brincavam alegremente, na companhia das prostitutas da Gruta Baiana, que se juntavam ao corso”. Democracia pura…

Nas décadas de 1930 e 40, o clube ficou muito “sério”, com a presença dos homens da  política e pessoas influentes da cidade.

Na década de 1950, temos dois casos muito pitorescos. O primeiro, quando o presidente do clube, Luiz Duarte Silva, na intenção de construir a nova sede social, na praça de esportes, nas margens do rio Canela, foi até o prefeito recém-eleito, Alberto Andaló, comunicar o fato. Andaló devolveu: “se você construir a sede, eu faço uma avenida ali…” Cumpriu a promessa! Já no início da construção, em 1956, a futura Avenida Duque de Caxias começou a sair do papel. Com a morte de Andaló, o prefeito Valdomiro Lopes, inaugurou-a e deu seu nome a ela. O segundo é mais pitoresco ainda. Andaló ficou famoso por repreender munícipes na rua, logo nas primeiras horas da manhã, por alguma infração cometida, como por exemplo, andar na contra-mão. Abelardo Menezes explicava: “ele fazia isto porque acabara de perder muito dinheiro no baralho lá no Automóvel Clube. Eu estava lá!”… Contra fatos…

Em 1958, recebemos a visita do governador do Estado, Jânio Quadros, que logo se tornaria Presidente da República. Acompanhando e registrando tudo, o documentarista paulistano, Primo Carbonari.  Após inúmeros discursos e uma maratona de inaugurações, a comitiva foi para o hotel.  Jânio, na madrugada, na companhia de Andaló, foi dançar e “jogar um baralhinho”, na velha sede da rua Voluntários. Fotos foram proibidas. Dr. Orlando de Arruda Barbatto, com uma câmera filmadora de 16mm registrou o fragrante.

Na década de 1960, sai de cena a velha sede, e com ela grandes histórias. Clóvis Lacorte, “agitador” de eventos do clube por décadas, entrega seu título, se negando a entrar na nova sede. Foi coerente…

Na década de 1970, aconteceram grande histórias. Já na primeira eleição da década, Anísio Haddad, ofendido com a suspensão que recebera da diretoria, semanas antes da eleição, resolveu se vingar, saindo candidato. E ganhou! Tinha prestígio…

Houve, também, o jantar no salão para recepcionar o Presidente da República, General Ernesto Geisel. Para o evento, foi convidado como atração, o Coral do Teatro Municipal. No número “Menino Zezinho”, Boqueira resolve “catar” um piolho imaginário na cabeça do General. Um silêncio geral. O homem de ferro se levanta, olha feio para Boqueira, para em seguida sorrir e estender-lhe a mão. Ufa!…

Também aconteceram muitos shows. Um deles foi o de Ronald Golias, que deixou os funcionários do clube em polvorosa com suas exigências: palco giratório, escada rolante e um cavalo no palco. Era trote… Digno do grande Golias. Outro foi de Wilson Simonal, que mal conseguiu cantar a primeira música, de tão “alto” que estava, como Vinícius de Moraes, após “mamar” um litro de Scoth, na companhia do parceiro Toquinho. Na saída, esperando o táxi, encostado num carro na Avenida Andaló, precisou aliviar-se ali mesmo… Edson Baffi, que não perdia nenhum lance, registrou o fato. O homem certo, no lugar certo.

É tudo verdade? Ou é pura lenda! Pode ser “Realimaginário”, como dizia Odécio Lopes dos Santos, em suas crônicas no Jornal Diário da Região.

É uma pena ver um clube com tanta história, que se confunde com a própria história da cidade, comemorar seu centenário (será em 2020), não tendo muito o que comemorar. É uma pena. Era uma Rio Preto em preto e branco e muito mais feliz

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