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A mensagem de um Reino então Unido

Artigo escrito por Rafael Zanini França, advogado , para a Gazeta de Rio Preto.

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A decisão do referendo no Reino Unido acerca de sua saída da União Europeia trouxe pânico coletivo. Bolsas oscilando, os próprios membros do Reino Unido discutindo a manutenção do seu formato atual, prognósticos de novos movimentos separatistas. De uma hora para outra o mundo pareceu se dividir e nos questionamos: afinal, toda a histeria faz sentido? Como não me qualifico a discussões econômicas técnicas profundas (mesmo hoje concluindo que previsões econômicas são, em geral, tão imprecisas e descompromissadas com fundamentos sólidos quanto às meteorológicas), o atual cenário passa por uma reflexão humanista. Sim, porque o indicativo dos cidadãos do Reino Unido traz consigo o questionamento: estamos preparados, enquanto indivíduos, ao desafio de convívio em uma aldeia global? Estamos dispostos a trocar o carimbo de cidadãos paulistas, cariocas, brasileiros, argentinos, sul americanos, europeus, etc. pelo carimbo “simples” e “genérico” de cidadãos humanos? Porque, no final, o que o processo de globalização promove, como consequência dos efeitos dos avanços tecnológicos na economia mundial, é a aproximação dos pares americanos, europeus, árabes e asiáticos para um convívio físico e cultural mais estreito.

Contudo, a mesma sensação de proximidade que impulsiona negócios internacionais e que nos conecta em redes sociais traz consigo dilemas de ordem política e econômica que ainda não se mostram maduros para o salto de “união” que a premissa da União Europeia promove. Isso porque a superação da insegurança refletida pela decisão dos britânicos passa pela emancipação e libertação individual do sentimento de fronteiras, de origens, de tradições pontuais e, especialmente, pelo desapego de uma visão comunitária para enfrentamento dos desafios globais. Em verdade, o sentimento de amor que nos conecta ao nosso bairrismo precisa evoluir para um nível mundial que, infelizmente, hoje ainda é incipiente.

Até que atinjamos esse estágio de amar – e daí se integrar globalmente – a estrutura atual de organização em comunidades menores com racional de cooperação entre si (cidades, estados, países, ONU) ainda se mostra necessária e funcional ao convívio internacional. No final, esperamos que o passo atrás dado pelos britânicos signifique, no futuro, uma caminhada mais consciente em direção ao mundo que no íntimo sonhamos. Em um mundo inseguro e financeiramente instável, a decisão dos britânicos não nega o “que” buscamos, mas nos parece trazer a discussão de “como” chegar lá.

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