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Vem aprender na Beija-Flor!
Artigo escrito por Roberto Lima
Três policiais militares foram mortos no Rio de Janeiro durante os dias do Carnaval. Duríssima realidade para uma cidade que tem registrado a impressionante média de um policial morto a pouco mais de dois dias neste recém-iniciado ano de 2018. Tiroteios, arrastões, furtos, assaltos à mão armada e outras variações da violência compuseram o enredo do medo dos turistas, foliões e população. Imagens impressionantes da ação dos bandidos e dos conflitos da guerrilha urbana foram exaustivamente mostradas na teve durante os dias do feriado prolongado. O Rio de Janeiro que emergiu das mãos de governantes corruptos, hoje julgados e devidamente engaiolados em prisões, é um Estado em frangalhos, à beira da falência, cuja imensa maioria da população agoniza em serviços públicos quase inexistentes, de Educação à Segurança, entre outros essenciais. Mas o Carnaval de horrores do Rio de Janeiro teve uma alegoria inesperada até mesmo para os moradores, tão acostumados ao desfile de malfeitos da bandidagem. Cerca de 150 pessoas vestidas de bate-bolas, fantasia tradicional do subúrbio do Rio de Janeiro, foram detidas sob suspeita de praticar um arrastão na região central da cidade durante a madrugada. Bate-bolas são fantasias de palhaços com aparência assustadora. A alegoria é muito utilizada no período do Carnaval principalmente nas zonas norte e oeste da cidade. Faz parte da fantasia andar com bolas gigantes amarradas em um pedaço de pau, que são arremessadas violentamente contra o chão para avisar que o grupo está chegando. Filme de terror perde para a ação violenta registrada pelos próprios bandidos vestidos de palhaços do mal. Assim caminha o Rio de Janeiro, espelho do Brasil, um país que tenta se livrar de um tempo de danos, perdas e devastação da ética e dos valores morais mais básicos. Sorte a nossa que os maus ainda são minoria. Tanto na criminalidade quanto na política. Mas o povo está cansado. E uma das milhares de provas de que o brasileiro quer o fim dos abusos e dos crimes lesa-pátria é o samba enredo mais cantado na Sapucaí deste ano. O samba da escola vencedora, a Beija Flor. Um samba de protesto e um desfile de protesto contra os maus tratos contra o povo e contra a bandalheira revelada pela Lava-Jato. É com trechos dele que eu encerro este ensaio. “… Ganância veste terno e gravata Onde a esperança sucumbiu Vejo a liberdade aprisionada Teu livro eu não sei ler, Brasil! Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola Meu canto é resistência No ecoar de um tambor Vêm ver brilhar Mais um menino que você abandonou. Oh pátria amada, por onde andarás? Seus filhos já não agüentam mais! Você que não soube cuidar Você que negou o amor Vem aprender na Beija-Flor!”
Roberto Lima Filho
Doutor em Ortodontia pela UFRJ