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A era da pós-verdade. é verdade ou mentira?
Artigo escrito pelo publicitário e consultor de marketing, Márcio Vidoti

A era da pós-verdade. é verdade ou mentira?
Esta citação costuma ser atribuída a Ésquilo, Philip Snowden e Samuel Johnson, mas sua verdadeira autoria é desconhecida.
Pela definição do dicionário [Oxford], pós-verdade quer dizer ‘algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais’. Em outros termos: a verdade perdeu o valor. Não nos guiamos mais pelos fatos. Mas pelo que escolhemos ou queremos acreditar que é a verdade.
O terreno da internet tem se revelado fértil para a propagação de mentiras – sempre interessadas –, trincheira dos haters. Levamos tanto tempo para estabelecer uma visão ‘científica’ dos fatos, construir a isenção do jornalista, a independência editorial e, de repente, vemos que o debate político se dá entre ‘likes, lacrações e cancelamentos’. A pós-verdadearrasta a política, o jornalismo, a justiça, a economia, a nossa vida pessoal.
Hoje em dia tudo é verificável e, portanto, não é fácil mentir. Mas essa dificuldade pode ser superada com dois elementos básicos: a insistência na afirmação falsa (olá Goebbels!), apesar dos desmentidos confiáveis; e a desqualificação de quem a contradiz.
Com tudo isso, se chegou à paradoxal situação de que as pessoas já não acreditam em nada e ao mesmo tempo são capazes de acreditarem em qualquer coisa.
Meias-verdades são mentiras absolutas, isso é um fato. A pós-verdade só pode prosperar em um ambiente no qual a indignação das pessoas diante da desonestidade e da falsidade dos políticos dá lugar à indiferença e, em seguida, à conivência. Em um mundo no qual a mentira é percebida como regra, e não exceção, é como se todos fossem mentirosos, mesmo quem fala a verdade. Assim, o que nos resta é escolher a mentira mais adequada aos nossos interesses, ou aquela que nos traz mais segurança emocional. Estabelece-se, assim, uma falsa equivalência entre todas as narrativas: um artigo de um cientista pode valer até menos que um post viralizado nas redes sociais.
“Quando você estiver verificando algo, ou considerando alguma filosofia, pergunte a si mesmo, somente, quais são os fatos e quais as verdades que os fatos revelam. Nunca se deixe divergir pelo que você gostaria de acreditar; olhe somente quais são os fatos. Este foi o conselho intelectual. O conselho moral que gostaria de deixar é muito simples: o amor é sábio, o ódio é tolo. Neste mundo que está cada vez mais interconectado, temos de aprender a tolerar uns aos outros; temos de aceitar que algumas pessoas dizem coisas que não gostamos. Nós só podemos viver juntos dessa forma, se quisermos viver juntos, e não morrer juntos. ”
Esta citação é atribuída a filósofo britânico Bertrand Russell (1872-1970), entrevistado pela BBC de Londres em 1959. Mais atual, impossível.
Márcio Vidoti, publicitário e consultor de marketing.
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