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Morte em vida
Artigo escrito pelo jornalista, radialista e escritor, José de Paiva Netto
Próximo estamos do Dia dos Mortos (2 de novembro). Mas que é ser morto ou vivo?
Muito mais falecido é aquele que passa indiferente ao sofrimento alheio, esquecido de que o amanhã pode trazer-lhe grande surpresa. Há muitas curvas na estrada…
Não estender auxílio à criança desamparada, ao ancião com frio, não matar a fome do faminto, não medicar o enfermo, não vestir os nus, não socorrer a viúva e o órfão, não alimentar, instruir e educar o povo, mantendo-o na ignorância completa, que é senão estar morto em vida?… Todos os que agem dessa maneira, que mais se tornam além de cadáveres ambulantes, necessitados de libertar-se da morte moral antes que lhes seja tarde?
Bem a propósito estas palavras de Emmanuel (Espírito):
“Choras por aqueles que te antecederam na viagem do túmulo. Refletes na morte como se teus passos não lhe demandassem igualmente os portais de cinza. E misturas rogativas e lágrimas, ignorando que a sepultura é a câmara renovadora em que todos nós retornamos para a eternidade da vida… Sim, não te esqueças das almas queridas que te precederam na grande marcha. Endereça-lhes teus pensamentos de esperança e carinho, que a mensagem do amor é sempre facho de luz. Entretanto, ora também pelos que estão mortos na estrada humana…
“Sepultado no crime…/ Cadaverizados na usura…/ Caídos na ilusão…/ Anulados na preguiça…/ Acomodados no preconceito…/ Petrificados na indiferença…/ Cristalizados no desânimo…/ Imobilizados no fanatismo…/ Tombados no desespero…/ Segregados na violência…
“Ei-los que te defrontam por toda parte… Aqui repousam em sarcófagos dourados, mostram-se adiante em ajardinados jazigos… Acolá descansam narcotizados em sepulcros de sombra, mais além dormem no visco da inércia… Ajuda-os e segue à frente, ofertando-lhes o conforto de tua prece, porque um dia, quando o sol da verdade reaquecer-lhes o coração entorpecido nas trevas, lhes será doloroso no mundo o estranho despertar”.
O grande equívoco da Humanidade tem sido viver como se após a morte nada houvesse. Manter sob o véu do mistério o conhecimento maior do único fato inarredável na existência do ser humano é uma terrível falha das religiões na atualidade. E ninguém venha, por favor, apressadamente dizer que estamos com a cabeça nas nuvens, como se desprezássemos o cotidiano da vida humana. Nada disso!
Como escrevemos nas Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (vol. 1), temos plena consciência de que o grande segredo da vida é, amando a vida, saber preparar-se para a morte, ou vida eterna. Por isso, com insistência, Alziro Zarur (1914-1979) alertava que “o suicídio não resolve as angústias de ninguém”.
Tenho amigos ateus que não creem na Eternidade. E nem por isso deixaremos de ser amigos. A todos eles a minha saudação fraterna. Contudo, nada custa pensar, um pouco que seja, na possibilidade de a vida prosseguir além do túmulo… Isso é sinal de inteligência e de se possuir a mente livre de algemas. Muita vez, a grande descoberta tem como primeiro passo a negação…
Antes de terminar, estas ilustrativas duas últimas quadrinhas do “Poema do Imortalista”, de Alziro Zarur:
“Amigos, por favor, não suponhais/ Que a morte seja o fim de nossa vida;/ A vida continua, não jungida/ Aos círculos das rotas celestiais.
“Os mortos não estão aí, cativos/ Nos túmulos que tendes ante vós:/ Os finados, agora, são os vivos;/ Finados, mais ou menos, somos nós”.
A Verdade é que, um dia, em variadas condições, uns bem ou outros nem tanto, todos nós, crentes ou incrédulos, nos encontraremos lá na Pátria Espiritual, a fim de prestarmos contas do que fizemos na Terra. Afinal, os mortos não morrem!
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