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Delegado rio-pretense implorou para não morrer

Durante coletiva à imprensa na tarde desta quinta-feira (dia 30), delegados contam versões de um dos acusados de matar Guerino Solfa Neto. Dupla disse que só matou vítima após descobrir que era policial

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A Polícia Civil está prestes a esclarecer a morte do delegado de Rio Preto Guerino Solfa Neto, no último sábado, em Rio Preto. Dois suspeitos estão presos e confessaram o crime. Depoimentos da dupla apontam que a vítima seria solta após o roubo, mas foi executada porque era policial. Na tarde de quinta-feira (dia 30) os delegados José Augusto Fernandes e José Mauro Venturelli explicaram detalhes do crime, segundo as versões dos acusados Abner Saulo Oliveira Calixto, de 26 anos, que cumpre pena por roubos de veículos e Rodrigo Geraldo Costa Lima, 28 anos, por tráfico de drogas. Ambos estavam livres caminhando pela BR-153 por conta da saída temporária em junho.

“Guerino estava mexendo no celular com a caminhonete desligada. Os acusados abriram a porta e acertaram um soco no rosto dele, o que deixou desnorteado. Em seguida, a dupla continuou a agressão e puxaram Guerino para o banco de trás e amarram as mãos dele. Neste momento Abner assumiu o volante e o Rodrigo foi junto com o delegado” disse Fernandes.

Enquanto transitavam pela rodovia, os bandidos pediam dinheiro. “Eles [acusados] não tinha conhecimento que Guerino era delegado. Ele foi rendido aleatoriamente. Os criminosos questionaram qual era a profissão dele e ele disse que era advogado. Neste momento os bandidos disseram que só queriam a caminhonete e o abandonariam em um lugar distante”, explicou.

Um dos criminosos teria acendido a luz interna da caminhonete para procurar objetos de valor e encontrou a arma do delegado, que tinha o brasão da Polícia Civil. “Foi neste momento que eles descobriram que Guerino era policial, mas não sabia que era delegado. Decidiram executá-lo. Segundo depoimento do Rodrigo, ele pediu para não ser morto. O próprio suspeito afirmou que só cometeram o crime pelo fato da vítima ser policial”.

Ao se aproximarem de uma floricultura, Guerino foi jogado para fora da caminhonete e Abner, com uma pistola.40 do delegado o executou com dois tiros. Em seguida, a dupla fugiu levando a caminhonete.

“Os dois só descobriram que tinham matado um delegado na manhã de domingo quando estavam limpando a caminhonete. A dupla encontrou um canivete, os documentos e a funcional do delegado. Rodrigo teria dito que não ficaria com a arma e Abner optou por esconder a pistola em um monte de areia aos fundos de sua casa” conta o José Augusto.

Investigações

Logo após o crime, policiais da DIG/Dise seguiram os trajetos feito pela caminhonete de acordo com relatório levantado pela empresa de pagamento eletrônico de pedágios. “Fizemos o caminho feito pela caminhonete e o veículo foi localizado em Itapecerica da Serra. Uma testemunha contou que viu o condutor entrando em um imóvel e descobrimos que lá era uma irmã de Abner. Nesta casa encontramos alguns objetos que eram da vítima. Foi assim que chegamos ao Abner”.

Equipes intensificaram o cerco até que o acusado se entregasse na terça-feira (dia 28). “Quando ele se entregou (Abner) disse que tinha agido sozinho. Mas ele não sabia que familiares dele tinha contado para gente que tinha uma segunda pessoa, um tal de Rodrigo. Para não levantarmos suspeita, jogamos nas redes sociais o depoimento dele dizendo que agia sozinho e começamos a investigar quem era este Rodrigo”, conta Fernandes.

Durante as investigações, policiais civis de Rio Preto descobriram que Abner era muito amigo de Rodrigo Geraldo Costa Lima, inclusive ambos realizavam trabalhos juntos em uma empresa e deixaram o Centro de Progressão Penitenciária (CPP) juntos.

“Para evitar alarde não divulgamos esta informação e na tarde de ontem, quando o Rodrigo retornou ao CPP, já tínhamos o mandado de prisão temporária dele. Ele foi detido e quando prestou depoimento confessou sua participação, dando detalhes importantes omitidos pelo Abner” explica.

O delegado José Augusto Fernandes acredita que não haja a participação de outras pessoas. “Tenho 99% de certeza que este crime está esclarecido. O Rodrigo afirmou que somente ele e o Abner cometeram o crime. Mas para evitar surpresas, amanhã as equipes que estão em São Paulo trarão Abner até a DIG e vamos ouvi-los. Mas o caso está praticamente esclarecido” afirma Fernandes.

Facção criminosa

Para o delegado está descartada qualquer ligação do latrocínio com o crime organizado. “Não tenho dúvidas, este caso foi um latrocínio e não tem nenhuma ligação com o PCC. Descartamos também que o crime foi encomendado. Como duas pessoas vão para executar um delegado desarmado? Não tem lógica, infelizmente foi uma fatalidade. Eles renderam o Doutor Guerino querendo caminhonete e no desenrolar da coisa descobriram que ele era policial, caso contrário seria solto” explica José Augusto Fernandes.

Segundo investigações, Guerino teria parado para atender uma ligação. “Ele foi rendido por causa da cautela. Ele estava transitando e recebeu uma ligação às 18h32, momento que ele parou para atender. Como estava com a concentração voltada ao telefone e com o veículo desligado, não viu a aproximação dos marginais. Ele estava com a arma próximo, se tivesse os vistos chegando teria rendido os dois”.

No final da coletiva, Fernandes desabafou: “Rodrigo tem duas passagens por tráfico e o Abner tem uma extensa ficha criminal, tinha praticado outros roubos semelhantes em São Paulo. Essa lei de execução penal que leva a toda essa desgraça, infelizmente. Uma pessoa presa pelo mesmo tipo de crime em 2014, em flagrante, já está cumprindo hoje, nem dois anos, pena no semiaberto. Acho que tinha que ser revista.  A gente implora. Eu como delegado de polícia gostaria que mudássemos essa lei. É a minha indignação”, conclui o delegado, que não conteve as lágrimas.

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