Cidades
Rio-pretenses de coração
Às vésperas do aniversário da cidade, a Gazeta de Rio Preto conta história de três personalidades que não nasceram nas terras de São José, mas constroem sua vida aqui
Evandro Pelarin, juiz linha-dura, está há quatro anos na Vara da Infância e Juventude de Rio Preto, coleciona polêmicas e gestos solidários. Aos 46 anos e diplomado juiz desde 1997, Pelarin atuou nas cidades de Estrela D’Oeste e Fernandópolis e, em fevereiro de 2015, Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) promoveu o magistrado a juiz de direito titular de Rio Preto. “Todo o começo é difícil, mas isso logo foi resolvido”, disse o juiz à Gazeta de Rio Preto no final da tarde da última quarta-feira, 13. Na ocasião o relógio se aproximava das 19 horas, e o juiz seguia com o seu trabalho. Pelarin calcula que lida com até 60 processos por dia. A Vara da Infância e Juventude de Rio Preto reúne 2013 ações e das mais diversas situações.
O juiz divide o tempo entre os despachos e ao assistencialismo. Pelarin mobilizou uma rede de profissionais e entidades para prestarem ajuda aos menores abandonados pelos pais ou em situações de riscos nas ruas. “Quando vim para Rio Preto, eu sabia das belezas da cidade, da referência na medicina e também dos meus desafios. Mas o que me encantou nessa cidade é o caráter solidário dos moradores e das instituições como o Rotary. Há muitas pessoas fazendo trabalho social, e fico encantado com a quantidade de voluntários”, conta o juiz.
Em 2017, por exemplo, Pelarin ficou comovido com o caso de João (nome fictício). O menino perdeu o pai cedo, morto em confronto com policiais, e a mãe morava nas ruas. Entregue a Comunidade Terapêutica Só por Hoje, João fez amizades, inspira simpatia e é comunicativo. “Ele (garoto) deixou todos impressionados quando disse que queria estudar, ser político”, recorda o juiz.
Dante da situação, Pelarin entrou em contato com um colega, também juiz em Rio Preto e que ofereceu curso de inglês para João. O Rotary também acolheu João.
Aos 15 anos e cheio de sonhos, João já contou sua vida para prefeitos da Associação dos Municípios da Araraquarense (AMA) e membros da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto, a Acirp.
Graduado em direito, em 1995, pela Unesp em Franca, o nome de Pelarin esteve no noticiário nacional desde os primeiros anos de sua atuação como juiz. Em 2005, ele estabeleceu o toque de recolher para menores de 18 anos em Fernandópolis para tentar inibir crimes praticados por jovens. Os adolescentes não poderiam ficar na rua entre 23 horas e 6 horas da manhã. O toque de recolher passou a ser adotado em dezenas de cidades e dividiu opiniões. O Ministério Público recorreu ao Tribunal de Justiça e Superior Tribunal de Justiça tentando anular o toque de recolher. O próprio Pelarin se antecipou e suspendeu a medida. Enquanto o toque de recolher durou por sete anos o número de infração cometidas por adolescentes caiu de 378 ocorrências, em 2005, ante 207, em 2011. Quase 50 pais ou responsáveis foram multados.
Mulher empreendedora
Pai e mãe ficaram no Rio Grande do Norte, os amigos de infância também. Vanessa Melo pôs a casa a venda e, depois de pesquisar algumas cidades do interior paulista, resolveu abrir seu primeiro negócio em São José do Rio Preto – a quase 3 mil quilômetros da cidade de Natal. A data da mudança? Ela responde prontamente, “13 de outubro de 2008”.
Nesse dia Vanessa o marido Josemar, acompanhado do filho caçula Luiz Enzo, desembarcava na cidade rio-pretense para uma vida nova. Ingrid Kelly, a filha mais velha, seguiu com os estudos no nordeste. “A parte mais ruim é a saudade que temos dos pais, a filha”, lamentou Vanessa, de 38 anos.
Com sacrifícios e perseverança, Vanessa passou de balconista a empresária. No ano de 2000, ela começou a trabalhar como vendedora da Ótica Diniz em uma unidade em Natal. A simpatia cativa clientes e logo a jovem ganhou destaques. Mas Vanessa enxergava que era possível ir adiante. “Eu acreditava no potencial da rede de franquias (Ótica Diniz). Enquanto trabalhava como vendedora, sonhava e planejava em montar a minha loja”, conta.
Foram oito anos como funcionária, poupando grana, até que estavam prontos para assumirem o próprio negócio. Decidida a investir no interior de São Paulo, Vanessa pôs a casa a venda.
Ela e o marido, também de Natal, começaram a estudar as cidades. Com isso, visitaram Santos, São José dos Campos, Piracicaba e Franca, além de Rio Preto. “Gostamos bastante de Rio Preto. Em 2008 (ano da mudança) o comércio estava ainda mais aquecido, e Rio Preto é um polo que atrai cidades vizinhas”, conta a empresária. “Fizemos a melhor escolha no ponto de vista profissional e para se viver, porque é uma cidade de referência, com qualidade de vida. Não tem praia, mas ótimos shoppings”, sorri.
A loja inaugurada no centro funciona a todo vapor. Hoje são dez unidades da Ótica Diniz. Uma das virtudes é que Vanessa apostou em todos os públicos: desde uma unidade para segmento do luxo, como a Prime no Shopping Iguatemi, até as de modelo padrão no Calçadão, na avenida Mirassolândia na zona norte. “Em abril vamos abrir a décima primeira loja, será na Redentora”, disse Vanessa por telefone – passou a semana de formatura da filha em Natal.
Embora satisfeita, Vanessa não esquece dos perrengues principalmente nos primeiros dias de vida em Rio Preto. “Sofremos dificuldades com a cultura e a culinária, era tudo novo e diferente, porém, o mais difícil foi conseguir alugar moradia. Éramos desconhecidos na cidade”, recorda Vanessa. “Graças a Deus deu tudo tão certo, o ritmo de trabalho era intenso e nem tivemos tempo para ficar se queixando.”
Além de Rio Preto, Vanessa abriu unidades da Ótica Diniz em Catanduva, Birigui, Araçatuba, Fernandópolis e Votuporanga e também outras quatro no estado de Santa Catarina. Preocupada em novos negócios, a empresária dedica parte do tempo para se relacionar com funcionários.
Depois das glórias no gramado,
Jefferson constrói império na cidade
Há uma frase, elaborada por Falcão, ex-Inter, Roma e Seleção Brasileira, que “o jogador de futebol morre duas vezes. A primeira, quando para de jogar”. O goleiro Jefferson saiu de cena no final do ano passado e contrariando os prognósticos, a cada dia, está mais desgarrado da vida de boleiro.
Empresário em Rio Preto, Jefferson de Oliveira Galvão divide seus negócios entre uma cafeteria, a Beato, e a construção de centros comerciais na região do shopping Plaza. É curioso, no entanto, como o ex-goleiro veio parar na cidade onde “pretendo criar minhas filhas e deixar um legado de trabalho para elas.”
“A gente sabe que a carreira de jogador é curta. Sempre tive vontade de abrir uma cafeteria e escolhi em Rio Preto, a minha cidade. Estava preparado para parar com o futebol e cuidar do meu filho”, conta Jefferson, que se refere a Beato como filho.
Uma espécie de cidadão do mundo, Jefferson nasceu em São Vicente, no litoral paulista, fora criado em Assis e também morou em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e até Turquia. Como atleta vestiu a camisa de Botafogo, Cruzeiro e Seleção Brasileira, entre outros.
O engraçado é que a passagem por Rio Preto durou apenas três meses e mudou a sua vida. Em 2000, Jefferson vivia uma má fase e foi emprestado do Cruzeiro, de Minas Gerais, para o América. Numa tarde de dezembro, Jefferson foi ao culto na Igreja do Evangelho Quadrangular, próxima ao estádio Teixeirão, e conheceu a futura esposa, Michele. O casal tem três filhas, Nicole, Débora e Jéssica. “Eu era um maluco, tinha cinco brincos na orelha e quase fui expulso do Cruzeiro (categorias de base) porque queria brigar com todo mundo. Mas eu fiz a minha melhor escolha, foi servir a Deus.”
Nem mesmo o status de ídolo no Botafogo o segurou na Cidade Maravilhosa. Jefferson é o terceiro atleta que mais vestiu a camisa do Botafogo, foram 458 partidas. Ele só perde para Nilton Santos, com 721 atuações, e Garrincha, 612 vezes.
“Foi uma carreira vitoriosa, de sucesso. Agradeço aos times que passei, ao Cruzeiro também, que deu a oportunidade de me profissionalizar. Ao Botafogo, que me tornou botafoguense, assim como a minha família é hoje. É um dos maiores do Brasil e do mundo, sem dúvida”, disse.
O ex-goleiro é bem diferente do estereótipo de um atleta de futebol. Mantém distância das baladas e polêmicas extracampo. Quando tinha 17 anos e dava seus primeiros passos no Cruzeiro tomou a primeira decisão nesse sentido. Ao invés do primeiro carro, ele depositou suas economias em um modesto apartamento na periferia de Belo Horizonte. “Nunca fui de me deslumbrar com supérfluos. Os jogadores de hoje querem trocar de carro direto, viajar para tais lugares. Meu propósito sempre foi ter uma casa, comprei um apartamento baratinho, tenho ele até hoje.”
A vida empresarial começou cedo. Depois do primeiro apartamento, Jefferson ouviu os conselhos de um amigo e, com 19 anos, passou a construir. “O Sandro (ex-zagueiro e companheiro de Botafogo) me aconselhava a investir em imóveis. Pensava como faria isso, ganhando um salário de R$ 13 mil por mês”, recorda.
Hoje, o rio-pretense Jefferson tem mais de vinte salas comerciais no Jardim Redentor.
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