Cidades
Instituto ‘As Valquírias’ quer ampliar atendimentos
Em Rio Preto, entidade atende 1,1 mil pessoas ao mês e pretende dobrar número em 2020
Foi realizado na noite de quinta-feira, dia 28, jantar solidário ‘Com Asas ao Amanhecer’, do Instituto As Valquírias. O evento reuniu lideranças empresariais e personalidades de Rio Preto, no Quinta do Golfe Clube. A ação tinha como objetivo captar recursos para fortalecer atividades realizadas pelo instituto na região Norte de Rio Preto e ampliar atendimento ano que vem.
Atualmente o instituto atende 532 crianças e adolescentes por dia. “Além dos acolhimentos, temos cursos de qualificação profissional, formando 480 alunos por ano. Além do certificado eles são encaminhados ao mercado de trabalho. Temos ações que oferecem suporte e apoio jurídico, social, pediátrico, fonoaudiólogo, tudo que a população de baixa renda não tem acesso. Diretamente atendemos cerca de 1.100 pessoas ao mês, mas ano que vem nossa meta é dobrar os atendimentos”, afirma a empreendedora social e diretora do Instituto As Valquírias, Amanda Oliveira.
O Instituto nasceu em um momento de turbulência social. O Hospital Ielar, que prestava atendimentos as crianças e jovens, estava encerrando as atividades. “Meu desespero era ver o encerramento das atividades. Não aceitei e procurei uma forma de manter os atendimentos. Nem me passou pela cabeça criar o instituto. Então disseram que eu poderia abrir um CNPJ. Embora já existisse a banda ‘As Valquírias’, este não foi o primeiro nome, foi ‘Instituto Águias’, pela representatividade da ave de rapina, por sua visão aguçada. Como já estava em uso, optamos por usar nome da banda”, diz Amanda. “Só queria manter o atendimento, não imaginava que iria chegar aonde chegamos”.
A entidade está instalada entre os bairros Vila Mayor e Jardim Paraíso, região que tem as ruas tomadas pelo tráfico de drogas e prostituição. Ao passar pelos portões, a realidade é outra. Oportunidades, acolhimento, igualdade social, empoderamento feminino são as palavras de referências. “Nosso maior desafio é fazer com que estas crianças se sintam seguras e acolhidas. Nosso foco é mantê-las engajadas e preenchidas emocionalmente para que não procurem fora o que temos aqui”, afirma a diretora do Instituto.
A música
Quando adolescente, Amanda conta que não tinha perspectiva de futuro e foi na música que viu uma oportunidade. “Foi na sala de aula do Ielar que veio a maior mudança, vi algo além dos problemas sociais, enxergava uma possibilidade ao ter o primeiro contato com a música. Sou muito grata a minha professora, que mostrou que meu lugar era no palco. Ela provou que não era só por que nasci na favela que não poderia estar à frente de uma banda”, diz.
A banda ‘As Valquírias’ foi criada antes mesmo da Instituição. “Tudo começou quando criamos o grupo de percussão em 2009. Em 2015 criamos uma banda de percussão só de meninas, pensei em alguns nomes, mas nada mais justo do que homenagear minha professora de música, a Valquíria Plaza. Ela me mostrou que não era só por que eu era pobre que eu tinha que ficar na plateia o resto da vida. E, somente em 2017 que vem o Instituto”, afirma.
A banda está na segunda geração, e é composta por Ana Laura na bateria, Michele no saxofone, Vitória no teclado, Lorrayne e Bianca no contrabaixo. Além da música, tem em comum o sonho de mudar o mundo. “Assim como nossa vida foi transformada pela música, queremos fazer o mesmo, replicar e transmitir tudo o que nos foi passado. Levar cor e beleza por onde passamos. Sempre mostrar que existe esperança”, diz Michele.
“Não viemos à toa ao mundo. Cada um tem uma missão, sabemos que falta estrutura em muitos bairros. Não é necessário dinheiro para ajudar o próximo. Sentar com uma criança de periferia e ouvir os sonhos dela, um profissional falar sobre desafios da carreira é incentivador” explica a baterista Ana Laura.
“Aprendemos a ser resilientes, crescemos diante de adversidades. Vi na música uma oportunidade, algo que mudou minha vida e através dela tento mudar a vida de outras pessoas”, afirma a contrabaixista Bianca.
Cada integrante da banda traz uma história de superação. Quando a vida deu motivos para chorarem, preferiram sorrir e seguiram em frente. No momento de tristeza, elas não se calaram, mas cantaram.
“Sou muito grata a Deus e ao universo. Estas meninas tiveram que deixar muita coisa para trás. Tiveram que criar resiliência, em decorrências aos traumas e injustiças. Algumas tiveram pais presos, assassinados, familiares que as criaram eram alcoólatras. Elas tiveram que ter uma força incrível. Não consigo explicar, tenho um amor muito grande, eu acredito em reencarnação e acredito que isto vem de outras vidas”, afirma Amanda emocionada.
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