Cidades
Empresário de Rio Preto é preso em operação contra adulteração em leite
Operação ‘Leite Compensado’ foi deflagrada pelo MP do Rio Grande do Sul nesta quarta-feira (11/12)
O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio Grande do Sul, prendeu nesta quarta-feira (11/12), em Rio Preto, um empresário do ramo laticínio, durante o cumprimento de um mandado da Operação Leite Compensado, que investiga fraudes na produção de leite. A Polícia Militar trabalhou em conjunto na ação.
Segundo o MP, Antônio Ricardo Colombo Sader, sócio-proprietário da Dielat, foi preso em casa. Com ele foram apreendidos R$ 295 mil, 15 mil em dólares e 5 mil euros. Uma carabina e uma pistola registradas no nome dele também foram apreendidas.
A fábrica alvo da investigação está localizada em Taquara, na região Metropolitana de Porto Alegre (RS). Uma mulher foi presa em flagrante, suspeita de ter dito a funcionários para apagarem possíveis provas.
Outras quatro pessoas foram presas preventivamente no RS, sendo Tales Bardo Laurindo, diretor da empresa; Gustavo Lauck, supervisor e o engenheiro químico Sérgio Alberto Seewald, conhecido como “alquimista” ou “mago do leite”.
De acordo com o Ministério Público, os produtos da Dielat são exportados da Venezuela e têm ampla distribuição no Brasil. As fórmulas fraudulentas e adulteradas dos produtos têm se tornado ainda mais sofisticadas, permitindo que substâncias como água oxigenada e soda cáustica escapem de detecções das fiscalizações de órgãos ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
A Dielat já venceu diversas licitações para fornecer laticínios para escolas e órgão públicos. As marcas vendidas no Brasil são: Mega Lac, Mega Milk, Tentação e Cootall. Na Venezuela, os produtos são da Tigo.
Substâncias Nocivas
O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, afirma que, depois de 2017, após a Leite Compen$ado 12, houve apenas duas denúncias sobre a adulteração no leite, mas ambas envolvendo pouca quantidade de adição de água ao produto, o que não rendeu uma nova fase da operação. No entanto, foram sugeridos e fiscalizados pequenos ajustes na cadeia produtiva.
“Mas agora, a situação é outra. Com a denúncia de 2024 se confirmou um novo risco e, para nossa surpresa, lá estava o alquimista – ou mago do leite. Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele da Leite 5. Mas, enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta Rockenbach.
Já o promotor de Justiça Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, explica que a soda cáustica é usada para ajustar o PH do leite e diminuir a sua acidez e, ainda por cima, volatiza ou desaparece rapidamente, não sendo detectada nas análises.
“Além de aprimorarem as fórmulas para adulteração, também aprimoraram as práticas criminosas. Eles utilizam alguns códigos – ‘vitamina’ e ‘receita’ – para tentar despistar qualquer tentativa de investigação. Vale lembrar que as irregularidades não foram detectadas apenas no leite UHT, mas no leite em pó, em compostos lácteos para fazer bebidas derivadas do produto e no soro de leite. Por exemplo, sobre o composto lácteo, eles chegam a reprocessar o produto vencido para reutilizá-lo novamente. Já a água oxigenada ou peróxido de hidrogênio, serve para matar micro-organismos e recuperar produto em deterioração. Isso, sem falar da soda cáustica, que pode conter metais pesados, alguns, inclusive, cancerígenos”, destaca Alcindo Bastos.
Também participaram da deflagração da Operação Leite Compen$ado 13, os promotores de Justiça André Dal Molin, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) no Estado, Manoel Antunes, também do GAECO, além do apoio do promotor João Paulo Gabriel de Souza, do GAECO/MPSP.
Sobre os lotes, o MPRS informa que, apesar de análises iniciais terem detectado substâncias nocivas à saúde humana e demais sujeiras ou pelos indefinidos, com o aprimoramento da fórmula, são aguardados exames mais detalhados para determinar exatamente os que estão contaminados.