Cidades
Drogas e prostituição; assassino de médica é julgado em Rio Preto
Davi Isaque Martins passa pelo Tribunal do Júri desta terça-feira (22/4) por ter matado a médica Thallita Fernandes, e colocado o corpo dela em uma mala, em agosto de 2023

Continua em andamento o Tribunal do Juri de Davi Isaque Martins, autor do feminicídio da médica Thallita da Cruz Fernandes, assassinada aos 28 anos e colocada dentro de uma mala, em 18 de agosto de 2023, em Rio Preto.
O crime, que chocou o País, ocorreu no prédio em que a médica morava junto com o namorado, na Vila Imperial. O relacionamento tinha aproximadamente três anos e, segundo a investigação da Polícia Civil, a motivação do crime foi porque a vítima terminou o relacionamento por mensagem no celular.
Ainda de acordo com a investigação e familiares da vítima, Davi não trabalhava e se aproveitava das condições financeiras de Thallita.
“Minha filha acreditava que ele não tinha oportunidades na vida e queria ajudá-lo, mas ele sempre dizia que nada dava certo ou que o patrão não pagava o salário. Eu perguntei a ela se ela tinha um namorado ou se tinha um filho que não trabalhava. Ela começou a procurar emprego para ele, mas ele não se interessava. Ela começou a mudar a opinião dela, me senti culpada, na época”, disse Juliana da Cruz Fernandes, mãe de Thallita.
A juíza da Vara Criminal, Gláucia Vespoli, se emocionou ao falar com Juliana.
“De mãe para mãe, não é culpa da senhora, nunca foi”, disse a magistrada.
O pai de Thalita, Hilton, também se emocionou ao falar da filha. Ele deu depoimento em uma chamada de vídeo.
“Ela era uma pessoa boa. Era a minha confidente, eu tenho uma família maravilhosa, mas ela era o meu norte. Ela me dava muitos conselhos, falava para eu ser mais calmo, menos estressado no trânsito. Ela foi uma pessoa boa no mundo”, emocionou-se.
Ao ser questionado pela juíza Gláucia Vespoli, o delegado Alceu Lima de Oliveira Júnior, que na época coordenava a investigação e a terceira Delegacia de Homicídios da Deic, disse que não acredita que o réu demonstrou arrependimento.
“Ele se referia ao apartamento dela como ‘o meu apê’, quando ela viajou a São Paulo, ele levou amigos lá. Ele trocava mensagens chulas com homossexuais, ficava com outros homens e mulheres em troca de dinheiro. Também se relacionava com funcionárias do bar, mandava uma garota subir uma escada para dar beijos nele”, afirmou o delegado.
Ao entrar na tribuna, Davi Isaque quis manifestar-se. Pediu perdão a todos os presentes e aos familiares da vítima. Disse estar arrependido.
Na primeira fileira, a mãe e o padrasto, o irmão e a avó; e os demais familiares e amigos de Thallita. Do lado de fora do Fórum de Rio Preto, uma manifestação encheu a calçada com cartazes em protesto pela condenação do réu, contra o feminicídio e em memória de Thallita.
Em seu depoimento, Davi mudou a narrativa dada na Delegacia de Homicídios e foi inserida nos autos do inquérito. Na tribuna, ele criou uma história fantasiosa e afirmou ter levado, da vítima, uma facada nas costas e um soco no rosto.
Também atentou contra a honra de Thallita, afirmando que ela tinha relações levianas, que era muito ciumenta e que também fazia uso de entorpecentes. Falas que contradizem os relatos dos familiares e amigos, e de todas as pessoas que conheceram a médica.
Thallita atuava na saúde pública de Bady Bassitt e marcou a vida de vários pacientes, que lembram dela como uma das melhores médicas plantonistas da cidade, localizada na região de Rio Preto.
“Na minha opinião, o fato dela ser plantonista era conveniente para ele, porque ele podia viver da forma que ele vivia à vontade”, disse o delegado Alceu Lima Jr.
Nos autos do inquérito investigativo do caso, não há exames periciais que mostram que Davi foi lesionado com golpes de faca.
O representante do Ministério Público, Dr. Horival Marques Oliveira Júnior, disse em defesa da vítima, que Davi não teve piedade alguma quando assassinou Thallita. Ele também falou sobre o drama dos crimes contra as mulheres e definiu o feminicídio no Brasil como uma “desgraça”. O promotor citou o caso de Daniela Peres, morta com dezoito golpes de punhal pelo ator Guilherme de Pádua, em dezembro de 1992. O homicídio qualificado não era reconhecido como crime hediondo, o feminicídio, tampouco falado. Ele foi condenado, na época, a 19 anos de prisão, mas cumpriu apenas seis anos. A medida revoltou a população.
“O Brasil é ou não é o país da impunidade?”, questionou o promotor aos jurados.
“Ela fazia terapia, ele levava homens e mulheres no apartamento quando ela viajava, ele usava drogas no apartamento dela. Os amigos dela achavam ele um parasita na vida dela. E ele era mesmo”, afirmou o promotor.
As informações serão atualizadas em breve.