Cultura

Companhia de Dança Deborah Colker faz apresentação de espetáculo em Rio Preto

“Sagração” reúne obra clássica de Stravinsky e cosmogonias originárias

Publicado há

1 mês

13/06/2025

Por

Da Redação

Flavio Colker

A Companhia de Dança Deborah Colker traz para São José do Rio Preto o espetáculo “Sagração” — uma obra que une a música clássica de Igor Stravinsky a ritmos brasileiros e narrativas ancestrais sobre a criação do mundo. As apresentações serão dias 24 e 25 de junho, às 20h, no Teatro Municipal Humberto Sinibaldi Neto.

Dirigida por Deborah Colker, a montagem estreou em 21 de março de 2024 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e propõe uma leitura contemporânea de A Sagração da Primavera, clássico do compositor russo. Deborah, também pianista, revisita essa obra-prima a partir da cosmovisão dos povos originários brasileiros, propondo um diálogo entre o erudito e o ancestral.

Fundada em 1994, a Companhia Deborah Colker já realizou mais de 2 mil apresentações em mais de 100 cidades de 35 países, alcançando um público total de cerca de 4 milhões de pessoas. “Atravessamos mudanças culturais, políticas e econômicas. Nossa força está na capacidade de evoluir, e essa é uma das chaves de ‘Sagração’”, afirma João Elias, diretor executivo e cofundador da companhia.

O espetáculo é resultado de um intenso processo criativo que durou dois anos e meio. Deborah viajou até o Xingu, onde vivenciou o Kuarup e conheceu de perto as culturas Kalapalo e Kuikuro. Foi nesse encontro que surgiu a colaboração com o cineasta indígena Takumã Kuikuro, que narra no palco a lenda do fogo entregue ao povo da terra pelo Urubu-Rei — uma das histórias que compõem o mosaico cosmogônico da obra.

“Tudo só poderia ter começado com uma mulher. Uma avó. A avó do mundo”, destaca Deborah, que também incorporou elementos da tradição judaico-cristã com o apoio do rabino e pensador Nilton Bonder. Mitos como o de Eva e a serpente, e a jornada de Abraão, foram revisitados como símbolos de ruptura e transformação humana.

Além das mitologias, Deborah mergulha em referências científicas e evolutivas. Personagens como bactérias, herbívoros e quadrúpedes compõem a narrativa, refletindo sobre a adaptação e a constante reinvenção da vida no planeta. “Sagração” é, assim, um espetáculo que costura poesia, ancestralidade e ciência em uma dramaturgia visual e sensorialmente potente.

A trilha sonora original de Stravinsky foi enriquecida pelo diretor musical Alexandre Elias, que mesclou instrumentos clássicos a sonoridades brasileiras. Ritmos como boi bumbá, coco, afoxé e samba se encontram com flautas de madeira, maracás, caxixis e tambores, criando uma fusão vibrante executada ao vivo pelos bailarinos.

A cenografia, assinada por Gringo Cardia, é outro destaque: 170 bambus de 4 metros de altura tomam o palco, simbolizando a resistência e a flexibilidade da vida e da natureza.