Jeitinho brasileiro
A polarização política do Brasil nos últimos anos colocou na ordem do dia a expressão “pessoas de bem”. O tal termo significa que pessoas corretas não aguentam mais serem passadas para trás, e a corrupção institucionalizada por agentes públicos junto ao Estado brasileiro. A enxurrada de denúncias de corrupção que assistimos como se fosse uma série televisiva sem fim mostra de forma patente à degeneração dos costumes no país.
Entretanto, um dado que poucos levam em consideração é que a nossa elite com acesso aos postos que dão afluência aos desmandos é, na verdade, a extensão de todos os brasileiros. É formada por homens e mulheres comuns que fazem a chamada transposição social. É nesse momento que deveríamos pensar que em nenhuma situação devemos transigir com o erro. Não podemos apontar o dedo enquanto também cometemos pequenos deslizes.
Quando possível subornamos o guarda de trânsito para evitar multas, cortamos fila do banco e em alguns casos oferecemos o pagamento a pequenos favores que nos descompliquem em uma situação desagradável. Esse comportamento não difere em nada de quem sai correndo com uma mala cheia de dinheiro para prestar um favor ou aluga um bunker para guardar o dinheiro amealhado para facilitar um negócio emperrado por uma lei que, numa situação específica, pode ser flexibilizada.
Fazemos isso enquanto condenamos aos outros apenas porque a vantagem que ele está levando é maior do que a nossa. Enquanto não nos conscientizarmos de que com o erro não se transige em hipótese nenhuma fica desonesto apontar o dedo. Na verdade, adotamos o jeitinho brasileiro para quase tudo.
Agora mesmo quem nos desnuda é uma empresa de distribuição de energia elétrica. A CPFL tira o pano e expõe a hipocrisia de muitos moradores mostrando que adoram enganar a companhia usando energia elétrica alheia e não pagando por isso. Fazem sem qualquer cerimônia o chamado “gato”. Gato elétrico é mais difícil, mas apenas em Rio Preto são quase 1.400 instalações irregulares e somando a região toda são 2,4 mil. Energia para iluminar 5,8 mil casas durante um ano. Um absurdo.
Na verdade, se olharmos bem de perto, somos os reis do “gato”. Gato d’água, gato de TV a Cabo, gato de Internet e agora o gato elétrico. Para a informação de todos, “gato” é crime. Dá cadeia. Tanto quanto quem faz “gato” do nosso dinheiro.