Saúde
Uma Cirurgia pode trazer riscos e precisa ser bem indicada
Artigo escrito pelo Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel
No dialeto popular, muitos já devem ter ouvido que “cirurgia não é uma brincadeira” e que “anestesia não é água”. Por mais simplistas que sejam estas colocações, elas trazem uma mensagem extremamente verdadeira. Trabalho com cirurgia cardiovascular e posso testemunhar que o ato cirúrgico em conjunto com o ato anestésico são cenários revestidos de muitos detalhes, muitas ações de precaução e, ainda assim, nunca se sabe como será a reação ou adaptação do corpo humano àquela agressão que estamos causando.
Agressão?? Sim, o ato cirúrgico, seja ele de caráter estético, reparador ou funcional, consiste numa agressão ou violação de barreiras próprias do corpo humano, como a pele, músculos, vasos sanguíneos e os órgãos em geral. Tecnicamente falando, existem cirurgias contaminadas, cirurgias limpas, cirurgias de maior risco, cirurgias de menor risco; enfim, cirurgia sempre será um procedimento que requer uma indicação precisa e com os riscos adequadamente ponderados.
Quem já passou por uma cirurgia sabe que existe um termo de consentimento esclarecido, um documento assinado pelo paciente ou por um responsável, concordando com a proposta cirúrgica e também com eventuais riscos. Claro que esta concordância deriva da vontade própria de passar por uma cirurgia (como no caso das cirurgias estéticas) ou pela convicção de que a cirurgia seria a melhor forma de tratamento naquela situação específica.
Para qualquer cirurgia, deve-se ter uma avaliação de risco, por meio de exames de sangue e exames cardiológicos, na tentativa de identificar algum fator que mude a dinâmica da cirurgia ou eventualmente possa até contraindicar o procedimento. Muito importante, também, entender que um check-up satisfatório não é garantia absoluta de que tudo correrá perfeitamente bem durante a cirurgia e que não haverá nenhum tipo de complicação.
Outro aspecto a ser ressaltado é que, nas cirurgias de maior complexidade, a probabilidade de complicações tende a ser maior e isto teria uma certa lógica. Em procedimentos cardiovasculares e neurológicos, por exemplo, pelo fato de estarmos lidando com doenças graves em órgãos mais críticos, convive-se naturalmente com um risco maior de complicações. Porém, sabemos que o porte de uma cirurgia também não é garantia de que não haverá complicações. As cirurgias plásticas, com caráter estético, e uma cesárea são exemplos de procedimentos, nos quais não queremos admitir que podem ocorrer complicações.
De uma forma geral, todas as pessoas que passarão por uma cirurgia, devem conhecer quais seriam as possíveis complicações e, mais do que isto, quais seriam as complicações potencialmente fatais. Veja a lista abaixo: Complicações mais frequentes e não letais.
Hematoma
Em geral, a própria incisão (corte) na pele, já por si só pode deixar uma vermelhidão no local, chamada de hematoma. Este tipo de lesão pode ser tratada usando compressas mornas e anti-inflamatórios.
Infecção na ferida
Além da vermelhidão, pode ocorrer acúmulo de pus no corte da cirurgia. Nestes casos, a primeira medida seria drenar esta secreção e, em algumas situações, complementar com antibióticos.
Dor
Como resultado da manipulação cirúrgica, seja ela mais superficial ou mais profunda, a sensação dolorosa pode ser controlada com analgésicos mais simples ou, eventualmente, com analgésicos mais fortes como a morfina.
Cicatrização
Em qualquer cirurgia, sobretudo numa cirurgia plástica, busca-se uma cicatriz final discreta e com bom formato. No entanto, sabemos que a cicatrização depende de fatores nutricionais, genéticos e cuidados com limpeza diária da ferida cirúrgica. Cicatrizes mais hipertróficas, queloides ou cicatrizes assimétricas podem ser possíveis complicações e podem ser tratadas com infiltrações ou mesmo por meio de uma cirurgia reparadora. Complicações potencialmente letais.
Hemorragia
Cirurgias de grande porte, como cardiovasculares, neurológicas e oncológicas convivem com risco de hemorragias de diferentes magnitudes. Muitas vezes é necessária transfusão de sangue após o procedimento. Em casos mais específicos, podem acontecer hemorragias de difícil controle e isto ocasionar uma parada cardíaca.
Embolização
A entrada de coágulos ou fragmentos de gordura dentro de vasos sanguíneos pode ocorrer em cirurgias ortopédicas, pelo fato de existirem fraturas ósseas, e também em cirurgias como lipoaspiração, onde fragmentos de gordura podem ser incidentalmente acumulados dentro dos vasos sanguíneos. A partir da entrada dentro dos vasos sanguíneos, o destino destes resíduos será o coração e pulmões, podendo causar embolia pulmonar, ou seja, interrupção da chegada de sangue aos pulmões. A atriz Luana Andrade faleceu esta semana em decorrência de uma embolia pulmonar maciça, durante o procedimento de lipoaspiração.
Alterações cardiovasculares
Como resultado dos efeitos anestésicos, da manipulação cirúrgica e de eventuais ocorrências como uma hemorragia, podem ocorrer arritmias cardíacas ou mesmo um infarto do coração ou um derrame cerebral.
Reações alérgicas (anafiláticas)
Os pacientes podem apresentar alguma reação grave diante de do uso de alguns anestésicos e medicamentos durante a cirurgia. Esta reação grave cursa com parada cardíaca e respiratória.
Quando a indicação de cirurgia for efetivamente a melhor opção, não se deve ter medo e desistir, pois, as estatísticas demonstram resultados positivos na maioria dos casos. Logicamente que o risco de uma cirurgia sempre deve ser individualizado, mas simplesmente não operar por medo não seria a melhor medida. No entanto, também não se deve operar sem critérios claros ou por um certo preciosismo, por influência de outras pessoas, por pressão social ou de redes sociais.
Busque sempre um profissional ou uma equipe que lhe agregue segurança, transparência e que não prometa resultados estrondosamente perfeitos, pois isto não existe. Uma cirurgia tem o propósito de melhorar, atenuar ou corrigir alguma condição que esteja causando sintomas ou desconforto físico e mental. Não queiram fazer uma cirurgia, principalmente cirurgias estéticas, por um apelo de redes sociais, pois toda e qualquer cirurgia pode ter complicações, muitas vezes de forma surpreendentemente letal e inesperada.
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel. Cardiologista com especialização em Cirurgia Cardiovascular, orientador de Nutrologia e Longevidade e coordenador da Faculdade de Medicina da Unilago.