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Saúde

O machismo pode prejudicar a saúde de uma mulher

Artigo escrito pelo Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel

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As mulheres sempre enfrentaram desafios e resistências ao longo da história. Esta constatação é lamentável, mas é real. Seja para conseguir ter direito ao voto, seja para ser reconhecida no mercado de trabalho, a mulher conviveu e ainda convive com a necessidade de se superar e provar seu valor.

Não existe sociedade produtiva sem a presença ativa e dinâmica das mulheres. No entanto, historicamente houve predomínio de atitudes impositivas que refletiam o que tanto se destaca como postura machista. Os homens, influenciados por valores do ambiente ou por questões familiares, passaram a adotar medidas de contenção do crescimento profissional das mulheres e, ao mesmo tempo, atitudes extremamente abusivas, como assédio e agressões.

Os impactos desta postura impositiva e machista, na vida de uma mulher, não se resumem a questão profissional e comportamental. Existe um impacto relativo à saúde feminina e que merece e deve ser muito debatido.

Quando uma mulher, em seu ambiente de trabalho, sofre assédio moral ou sexual, não é somente sua imagem como ser humano que foi afrontada e violada, mas também sua estabilidade hormonal, seu equilíbrio imunológico e suas funções orgânicas. Uma mulher que passa por esta situação constrangedora, torna-se uma pessoa com maior propensão para arritmias cardíacas, hipertensão arterial, problemas de pele, queda de cabelo, problemas digestivos e transtornos mentais.

Quando uma mulher é desmerecida por uma equipe de trabalho predominantemente masculina, sem o devido reconhecimento em termos de salário e promoções, ela passa a trabalhar convivendo com muitos sintomas indesejáveis. Sabe aquela sensação de saber que irá sofrer alguma humilhação e ter de estar naquele lugar por questões de sobrevivência financeira? A linha de raciocínio é exatamente esta – uma pessoa com grande potencial, merecedora de respeito e dignidade, mas que é vítima de uma postura soberba e machista, a qual provoca traumas emocionais e sintomas muito incômodos.

Existe um conceito, que muitas vezes é relativizado, acerca da maior sensibilidade das mulheres frente a diversas ocorrências. Desta ideia deriva outro conceito – mulher chora e é frágil. Vamos colocar os fatos em seus devidos lugares. Chorar é uma manifestação normal de qualquer ser humano, frente a um determinado sentimento. Chorar não é privilégio de homens ou mulheres, independe de gênero, raça e cultura. Lembrem-se de que nascemos chorando.

Chorar também não deve ser categorizado como sinônimo de fragilidade. Entretanto, as atitudes machistas se fundamentam, entre outras coisas, nesta falsa fragilidade das mulheres; na verdade, sabemos que é tudo uma mera desculpa para agir com soberba. Mas a justificativa perante a sociedade é de que foi necessária uma atitude impositiva pois as mulheres seriam frágeis e incapazes.

As mulheres, por questões hormonais próprias e também por influências culturais, muitas vezes são mais sensíveis e emotivas. Isto não é motivo para a ocorrência de assédio e de abusos. Esta mesma sensibilidade aguçada do sexo feminino faz com que haja, com muita veemência, um profundo desequilíbrio fisiológico e mental, diante de tantas humilhações.

Muitas doenças que acometem uma mulher, que esteja vivenciando situações de humilhação e assédio, podem culminar com sequelas irreversíveis, tanto no corpo como na personalidade.

E como então intervir neste cenário tão trágico e que parece nunca acabar? Primeiramente cada homem deveria reconhecer o papel essencial que a mulher desempenha no núcleo familiar e na sociedade. Ao mesmo tempo, passar a enxergar algo que a cegueira machista costuma impedir – quando uma mulher é assediada e humilhada, ela não está apenas vivenciando um constrangimento, ela está literalmente morrendo mais rápido.

A postura machista impõe a uma mulher muitas sensações e manifestações, que podem comprometer a saúde e o equilíbrio emocional. Situações de assédio são verdadeiros gatilhos para estresse, mudando o comportamento da pessoa, diminuindo sua produtividade e criando traumas para o resto da vida.

Será que a única pandemia que compromete a vida e a saúde seria a pandemia da COVID-19? Com certeza, a pandemia do assédio precisaria também de vacina, mas uma vacina para a consciência daqueles homens que, de forma covarde, insistem nesta desmoralização de suas amigas, colegas, esposas, namoradas.

Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel. Cardiologista com especialização em Cirurgia Cardiovascular, orientador de Nutrologia e Longevidade e coordenador da Faculdade de Medicina da Unilago.

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