Saúde
A importância de medir a pressão nos braços e nas pernas
Artigo escrito pelo Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel

O corpo humano, segundo consta nos autos filosóficos, é perfeito. No entanto, do ponto de vista técnico, nosso corpo é dotado de muitas assimetrias, como o comprimento dos membros superiores e inferiores, além das medidas da face humana. Pode parecer estranho e ilógico, mas a matemática elucida brilhantemente que, para a configuração de um plano, são necessários três pontos – portanto, um número ímpar -, uma realidade assimétrica. Na natureza, busca-se o trevo de três folhas, mas, quando se encontra um trevo de quatro folhas, eis o delírio total. Na cultura cristã, a figura de Deus desdobra-se em três vertentes: Pai, Filho e Espírito Santo – a tríade ou trindade santa.
Nós, seres humanos, somos aparentemente imperfeitos em nossa constituição física, mas perfeitos na capacidade de adaptação, e isso se torna evidente quando observamos o comportamento das diferentes funções orgânicas. Enquanto uma pessoa respira a uma taxa de 12 movimentos por minuto, outra pode executar plenamente 15 movimentos respiratórios, sendo que ambas são saudáveis. Os batimentos cardíacos de quem está lendo este texto, neste exato momento, podem ser da ordem de 70 por minuto, enquanto os de outras pessoas podem se manter ao redor de 80 a 90 por minuto. Há pessoas que necessitam de 4 a 5 horas de sono noturno para um descanso adequado; outras precisam de 7 a 8 horas para alcançar esse mesmo descanso. Algumas transpiram profusamente, enquanto outras expelem apenas míseras gotas de suor.
Nossas funções orgânicas retratam condições assimétricas de normalidade, ou seja, podem ser considerados normais determinados intervalos numéricos e alguns valores em si, independentemente de serem pares, ímpares, iguais, diferentes ou semelhantes. O modelo fisiológico do ser humano é variável em diversos parâmetros, sem que isso comprometa o conceito de normalidade. Apesar dessa variabilidade, podemos nos deparar com algumas situações de gritante assimetria e, dessa forma, diagnosticar doenças.
Foquemos no quesito pressão arterial, que reflete a intensidade do fluxo sanguíneo passando pelos vasos. Além da variabilidade existente entre as pessoas – algumas convivem muito bem com níveis pressóricos de 100 por 60, enquanto outras mantêm níveis de 120 ou 130 por 80 -, deve-se considerar a variação da pressão entre os braços esquerdo e direito, assim como entre os membros superiores e inferiores.
Medir a pressão arterial em ambos os braços tem sido um hábito cada vez mais raro nos consultórios, talvez devido à rotina intensa de atendimento, mas essa prática é uma importante ferramenta para a suspeita de alguns agravos cardiovasculares, especialmente dissecção de aorta e trombose arterial.
A dissecção de aorta representa, na maioria dos casos, uma consequência direta da hipertensão arterial. O que ocorre nessa condição é que a camada interna da aorta não suporta níveis pressóricos muito elevados e, literalmente, desgarra-se das demais camadas, comprometendo o fluxo sanguíneo. Normalmente, a pessoa que está apresentando uma dissecção de aorta – ou seja, está na fase aguda do processo – queixa-se de dor torácica muito intensa e lancinante, associada à perda de força e sensibilidade em um dos braços. No exame clínico, além dos níveis pressóricos elevados, o que chama atenção é a assimetria da pressão entre os braços. No braço comprometido pela dissecção da aorta, os níveis pressóricos podem estar mais atenuados em relação ao outro braço.
As arritmias cardíacas são muito frequentes na população, principalmente após os 50 anos de idade. Uma das complicações das arritmias é a formação de trombos ou coágulos dentro do coração. Esses trombos podem se dispersar pela circulação e obstruir vasos sanguíneos. Uma trombose em uma grande artéria de um braço pode gerar uma assimetria da pressão arterial entre os dois membros superiores.
No campo das cardiopatias pediátricas, especificamente as cardiopatias congênitas – aquelas passíveis de diagnóstico nos primeiros dias de vida -, destaca-se uma doença chamada coarctação da aorta. Nessa patologia, a criança nasce com um estreitamento em um segmento da artéria aorta, o que provoca aumento da pressão arterial nos membros superiores e uma queda da pressão nos membros inferiores. Dessa forma, a simples medição da pressão arterial e a palpação dos pulsos permitem reconhecer um diferencial pressórico entre os braços e as pernas da criança.
Quando houver, portanto, alteração e, principalmente, assimetria nos níveis pressóricos entre um braço e outro ou entre braços e pernas, consulte um cardiologista para avaliação adequada. Esse profissional poderá ajudá-lo a definir se essa assimetria está dentro de um intervalo de normalidade ou se existem outros indícios que reforcem a suspeita de uma doença. Ainda que exames complementares sejam necessários para fins comprobatórios, nos casos de assimetria pressórica, a simples percepção clínica dessa variação já é um poderoso recurso para otimizar a prevenção, o diagnóstico e até o tratamento de um agravo cardiovascular.
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel. Cardiologista com especialização em Cirurgia Cardiovascular, orientador de Nutrologia e Longevidade e coordenador da Faculdade de Medicina da Unilago.
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