Saúde
Perspectivas para 2026 quanto ao tratamento das doenças cardiovasculares
Artigo escrito pelo Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel

A medicina cardiovascular não pode parar. E 2026 está aí, ansioso por novidades, inovações e soluções concretas para tantas doenças cardiovasculares com altíssimo índice de mortalidade.
A pesquisa em ciências da saúde, notadamente no âmbito cardiovascular, requer a contínua integração entre ciências básicas, ciências clínicas e a indústria. O maior incentivo para essa integração é a realidade de que as doenças cardiovasculares não escolhem faixa etária nem classe social e, quando diagnosticadas em estágio avançado, são inexoravelmente letais.
O despontar de um novo ano não deveria consolidar o conformismo, mas, por outro lado, sedimentar a inquietude dos centros de pesquisa e pesquisadores, na busca de mais soluções e inovações.
Existem ainda desafios complexos a superar e certamente existe demanda de tempo para isso. Obviamente, não podemos atribuir ao ano de 2026 todo esse fardo, mas podemos implementar novas metas, ações e soluções se, efetivamente, os três pilares – ciências básicas, ciências clínicas e indústria – estiverem atuando em equilíbrio, compensando as limitações de um com as iniciativas do outro.
Ainda enfrentamos a doença de Chagas, uma patologia descrita em 1909 e que tem relação direta com as condições de moradia e higiene. Nas últimas décadas, temos notado que o câncer e as terapias para tal são extremamente prejudiciais à boa função cardiovascular – em outras palavras, o câncer e a doença cardiovascular se uniram para nos matar em maior escala. A insuficiência cardíaca e o transplante de coração ora se casam, ora se divorciam; lamentavelmente, não vivem a paz de um matrimônio eterno e, em meio a isso, os dispositivos mecânicos, ou “coração artificial”, ainda requerem mais pesquisas, mais análises de custo e mais desburocratização.
A cirurgia cardiovascular tem vivenciado a era das técnicas de mínima invasão, por meio de incisões menores e incorporação tecnológica. No entanto, um dos sustentáculos da cirurgia cardiovascular – a chamada circulação extracorpórea — ainda se comporta de forma dicotômica. Explicando melhor: por meio da circulação extracorpórea, o cirurgião cardiovascular consegue parar o coração, esfriar e esquentar a temperatura corpórea, abrir o coração e operá-lo. Fantástico isso! Porém, esse circuito artificial de circulação gera um processo inflamatório que, quando acentuado, pode até matar. Ainda precisamos buscar soluções concretas e efetivas para isso. A pesquisa cardiovascular deve buscar cirurgias cada vez menos invasivas, mas é mister que haja também cada vez menos carga inflamatória.
Algumas terapias que constantemente permeiam o universo de várias especialidades médicas, como a imunoterapia e as células-tronco, poderiam ter mais destaque em 2026, sendo úteis não apenas para algum tipo específico de patologia cardiovascular, mas, preferencialmente, com maior amplitude de aplicação clínica.
O ano de 2026 já deve estar cansado. Afinal, ele nem começou e a ele tantas atribuições e metas foram alocadas. Não há outra alternativa, pois as doenças cardiovasculares permanecem firmes e novas soluções precisam aparecer. Os centros de pesquisa e pesquisadores brasileiros têm talento inquestionável para isso, e as pessoas, sobretudo as mais carentes, geralmente têm pouco tempo para esperar. Talvez essa seja a perspectiva magna para 2026 quanto à medicina cardiovascular: a produção de soluções tem de superar a velocidade do tempo.
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel. Cardiologista com especialização em Cirurgia Cardiovascular, orientador de Nutrologia e Longevidade e coordenador da Faculdade de Medicina da Unilago.



