Com o fim do ano e a chegada de um novo ciclo, cresce em várias regiões do país a busca por ervas e plantas usadas em rituais de limpeza simbólica, energização e bem-estar. Em feiras livres, mercados municipais ou pequenas barracas espalhadas por bairros populares, o comércio de folhas, raízes e ramos segue movido pelo conhecimento transmitido ao longo das gerações.
Essa tradição, presente em todo o Brasil, tem no Rio de Janeiro um ponto de grande concentração. Ali, especialmente na capital e na Baixada Fluminense, erveiros expõem macassá, arruda, alecrim, alfazema, sálvia e outras espécies consideradas essenciais para rituais de renovação energética. Em alguns pontos da cidade, comerciantes borrifam água sobre as folhas para mantê-las frescas, enquanto orientam clientes sobre diferentes modos de preparo, como chás, banhos, escalda-pés e xaropes caseiros.
As plantas também fazem parte da prática religiosa e cultural de inúmeras comunidades, especialmente em religiões de matriz africana e indígenas. Em muitos terreiros, o uso das folhas tem sentido espiritual, terapêutico e até alimentar. Sacerdotes e sacerdotisas reforçam que esse saber não surge ao acaso: há estudo, orientação e responsabilidade na forma de preparar e aplicar cada erva, e não existe uma receita que sirva igualmente para todas as pessoas. No fim do ano, porém, uma recomendação costuma ser universal: conectar-se à natureza, seja tomando um banho de rio, mar ou cachoeira, como forma de renovação simbólica.
Embora não haja comprovação científica de que banhos energéticos produzam efeitos diretos no corpo, pesquisadores apontam que práticas religiosas e rituais podem promover sensação de proteção e bem-estar, o que gera impacto positivo na saúde emocional. Especialistas chamam atenção, porém, para o consumo oral de plantas: chás feitos de forma inadequada podem causar toxicidade se usados por tempo prolongado ou em excesso. Também há o risco de confusão entre espécies com aparência semelhante, reforçando a importância de adquirir produtos de fontes confiáveis.
Para quem deseja recorrer às ervas de forma segura, uma alternativa acessível é começar pelas plantas amplamente usadas na culinária, como manjericão, orégano, alecrim e sálvia — todas com propriedades reconhecidas pela tradição popular. E, em caso de dúvida, portais como hortos universitários e sites especializados podem ajudar a identificar espécies e orientar modos corretos de uso.
Enquanto isso, do outro lado do balcão, erveiros seguem exercendo seu papel social, cultural e identitário. Muitos veem no trabalho uma forma de preservar histórias, crenças e raízes familiares. Para eles, vender ervas não é apenas um comércio, é um modo de manter vivos os laços com a espiritualidade, a terra e a ancestralidade que molda grande parte da cultura brasileira.