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Unesp publica carta aberta após detenção de aluno por suposta ameaça contra creche

Segundo a Polícia Civil, funcionários da creche instalada no campus da Universidade se assustaram com o comportamento do jovem de 21 anos

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Colaboração do Leitor

A Universidade Estadual Paulista (Unesp/Ibilce) de Rio Preto publicou uma carta aberta após um aluno de 21 anos ter sido detido por suposta ameaça contra o Centro de Convivência Infantil (CCI) instalado no campus da Universidade. A confusão aconteceu na manhã da última quarta-feira (12).

Na carta, a Assessoria de Comunicação da unidade disserta sobre ‘O papel da Universidade num contexto de pânico e desinformação’. No texto, a assessoria destaca a criação de falsas notícias produzidas com o objetivo de provocar pânico na sociedade, destaca os ataques recentes contra as escolas em São Paulo e Santa Catarina e ressalta a importância do enfrentamento das fake news.  

No entanto, a Assessoria de Comunicação da Universidade não explicou o que, de fato, ocorreu no episódio. Ontem, a reportagem tentou falar com o responsável do setor, mas ninguém atendeu o telefone da instituição.

O Gazeta de Rio Preto, veículo de comunicação sério e de credibilidade no município, também é contra a publicação de falsas notícias e atua com um jornalismo comprometido com a verdade.

Após a publicação da reportagem, o Gazeta foi acusado por alguns leitores de produzir uma “fake news” sobre o fato. No entanto, a notícia foi publicada de acordo com informações do boletim de ocorrência registrado na Central de Flagrantes pela equipe da Polícia Civil chefiada pelo delegado Roberval Macedo dos Santos. As informações também foram apuradas e confirmadas com a Polícia Militar.

O Gazeta de Rio Preto não produziu nenhuma notícia falsa e noticiou o fato conforme o registro abaixo:

A reportagem reitera que está à disposição da Universidade caso a Assessoria de Comunicação queira explicar o ocorrido.

Leia a carta aberta publicada pela Assessoria de Comunicação da Unesp de Rio Preto na íntegra:

“Nas últimas semanas, rumores sobre ataques a escolas e a universidades têm sido publicados e compartilhados em redes sociais. A criação de falsas notícias como essas tem como objetivo principal produzir apreensão e angústia, promovendo medo e desconfiança em relação ao outro, tendo como efeitos, por exemplo, a restrição da circulação das pessoas nos diversos ambientes sociais e impondo uma postura permanentemente reativa e de pânico para com o outro. Dessas falsas notícias, resultam também o fortalecimento de grupos extremistas interessados na indução do terror social. 

Há, pois, um contexto mais amplo que faz com que a leitura de notícias falsas e enganosas tenham destaque e pareçam fazer sentido. Além dos trágicos episódios de ataques recentes a escolas em São Paulo e em Santa Catarina, vive-se em uma sociedade em que há altos índices de criminalidade, por vezes com mortes violentas intencionais. Nessa conjuntura, ao receber o que seria um alerta contra o perigo, a reação é a de compartilhar instantaneamente aquela informação, como uma maneira de proteger a si próprio e de tentar cuidar dos mais próximos. Raramente se tem a percepção de que, com essa atitude, se está envolvido na (re)produção de notícias falsas ou enganosas, que podem prejudicar pessoas, grupos sociais e instituições, disseminando preconceitos, discursos de ódio, teorias da conspiração e outras ações violentas.

A universidade e a comunidade acadêmica podem ocupar um lugar de centralidade nesse cenário. Estudiosos do fenômeno têm discutido as chamadas fake news como parte de um problema complexo, o da desinformação, segundo o qual não é possível distinguir com clareza o que é verdadeiro e o que é falso, uma vez que há “notícias” propositalmente fabricadas e manipuladas para produzir equívoco, discórdia e mais medo. A agência internacional First Draft, voltada ao enfrentamento da desinformação e das fake news, aborda a questão segundo um “ecossistema” em que pode haver falsa conexão, falso contexto, manipulação do contexto, sátira ou paródia, conteúdo enganoso, conteúdo impostor, conteúdo fabricado. No caso da produção de conteúdo impostor, por exemplo, há uma fonte genuína, como um veículo de mídia conhecido, que é imitada em seu arranjo gráfico ou estilo de redação, induzindo a uma leitura digna de confiança. O conteúdo fabricado, por sua vez, tem contado com o apoio de tecnologias de deepfake para produção de vídeos falsos, mas assustadoramente realistas, feitos para enganar e prejudicar pessoas ou instituições (em parte, para gerar lucro para empresas e pessoas que monetizam conteúdo em plataformas digitais).

Na dinâmica da desinformação, nem todos os detalhes são, portanto, falsos, mas a utilização de informações fora de contexto, com falsa conexão entre o que aparece, por exemplo, numa imagem e o que é dito no texto escrito a ela associado, produz como efeitos mentiras e boatos que dificilmente são desfeitos. Há, assim, uma constante exploração dos limites da verossimilhança. A apreciação e o julgamento dessas fronteiras têm ficado a cargo do leitor e usuário de redes sociais digitais. No entanto, cada vez mais se impõe às diferentes instituições uma agenda permanente sobre a desinformação no debate público e uma ação propositiva por meio de políticas autogestadas ou desenvolvidas sob o patrocínio de instâncias governamentais como forma de enfrentar as suas consequências. 

Dentre as recomendações mais frequentes no combate à desinformação, estão o investimento em popularização da discussão sobre o uso de recursos midiáticos, assim como da própria ciência. Abordagens envolvendo diferentes disciplinas, discussão crítica dos modos de divulgação das informações, ênfase na atenção aos afetos e debate amplo de temas (mesmo que complexos) são alguns caminhos a percorrer. E com urgência. 

A comunidade local será convocada à discussão por meio de suas instâncias colegiadas, espaços de representação democrática dos segmentos universitários, e que formam a gestão compartilhada de nossa Universidade. Nesse sentido, as atividades acadêmicas e administrativas seguem normalmente e não devemos nos contagiar por falsas notícias e desinformação. Eventuais ocorrências serão tratadas institucionalmente e amparadas nos estatutos legais, preservando-se a ética e os princípios do Estado Democrático de Direito.”

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