Cultura
A luz que voltou à Vila do Cedro
Suplemento Histórias de Natal: ‘Em meio a apagões e tempestades, a solidariedade transformou o Natal de uma comunidade, reacendendo laços, memórias e esperança’

Na pequena Vila do Cedro, o Natal de 2024 parecia condenado à escuridão. Uma tempestade repentina, daquelas que chegam sem pedir permissão, derrubou postes, arrancou fios e deixou todo o bairro às cegas. As luzes coloridas que os moradores haviam pendurado com tanto carinho se apagaram antes mesmo da véspera, e um silêncio pesado tomou conta das ruas molhadas. Muitos acreditavam que aquele seria um Natal triste, desses que se tenta esquecer.
Dona Alzira, 78 anos, foi a primeira a desafiar o destino. Acostumada a celebrar o Natal mesmo nos tempos mais difíceis, acendeu uma vela grossa e a colocou na janela. “Se a luz sumiu lá fora, a gente cria aqui dentro”, disse, com um sorriso pequeno, mas firme. A chama solitária tremulava na escuridão quando chamou a atenção de João, um jovem eletricista que havia se mudado para a vila apenas duas semanas antes.
Comovido pela cena, João bateu de porta em porta convidando os vizinhos a não deixarem o Natal passar despercebido. Logo, moradores que mal trocavam palavras no dia a dia começaram a se unir. Surgiram lanternas de camping, velas guardadas para emergências, uma caixa de som carregada por uma bateria portátil e até um gerador antigo que Seu Bernardi, o mecânico da rua principal, jurava que não funcionava há anos – mas que, surpreendentemente, ronronou de volta à vida.
As pessoas se reuniram no largo central, improvisando uma celebração cheia de improvisos e afeto. As crianças recolheram galhos no quintal e montaram uma árvore torta, decorada com fitas, pedaços de papel colorido e até tampinhas brilhantes. As famílias compartilharam o que tinham preparado antes da tempestade: biscoitos amanteigados, fatias de bolo de fubá, garrafas de suco. E, para completar, Seu Orlando trouxe seu violão antigo, e após alguns ajustes nas cordas, o primeiro acorde ecoou no escuro.
Quando Dona Alzira começou a cantar uma antiga canção natalina aprendida com a mãe, o improviso virou emoção. Pessoas que há meses não se falavam se abraçaram. Crianças silenciaram para ouvir. Algumas lágrimas brilharam sob o reflexo das lanternas, e por alguns minutos ninguém se lembrou da falta de energia – porque ali havia luz de sobra.
A energia elétrica só voltou perto da meia-noite. Mas, ao contrário do que se esperava, ninguém correu para dentro de casa. As luzes artificiais eram agora apenas um complemento. O verdadeiro brilho estava nos laços que tinham sido reacendidos, na sensação de pertencimento que a tempestade, ironicamente, ajudara a revelar.
Naquela noite, a Vila do Cedro descobriu que o Natal não depende de enfeites perfeitos ou ceias grandiosas. Ele nasce quando as pessoas decidem iluminar umas às outras – e nenhuma escuridão é capaz de vencer isso.
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