Cultura
Na noite de Natal elas deixam suas famílias para servir outras
Dedicação, afeto e comprometimento são os ingredientes que temperam a noite de Natal de profissionais que passam a data trabalhando

Atuando como cozinheira há mais de duas décadas, Débora Regina da Silva tomou a decisão de trabalhar também na ceia de Natal, e no almoço do dia 25, há cerca de 12 anos. “Comecei a pegar trabalho no Natal depois que meus filhos casaram e foram cuidar de suas próprias famílias, ficando apenas eu e meu marido. Eles passam o Natal com a família do marido e esposa, e ficam comigo na virada do ano. Quando você vê todo mundo ali, meia-noite, dá um aperto no coração. Mas se a gente não faz a ceia para essas famílias, quem vai fazer a comemoração deles?”, ressalta ela, que se sente grata pela oportunidade de servir outras pessoas.
Débora tem clientes fixos, que atende anualmente no Natal, e além da ceia volta no dia seguinte, quando providencia o café da manhã e o almoço. “Chego perto das 11 horas e só saio no final do dia, depois de concluir meu compromisso com café, almoço e sobremesa. Só volto para minha casa depois de deixar tudo organizado.”
A procura por bons profissionais, nessa época do ano, é grande. “Eu costumo fechar o Natal de um ano para o outro, e quando vai chegando perto, várias pessoas procuram, mas já estou comprometida e tenho responsabilidade”, conta a cozinheira.
Para passar uma data tão significativa trabalhando, existe uma recompensa financeira, afinal são dois dias de atividade intensa. “Eles pagam bem. Apenas no Natal conseguimos tirar esse dinheiro. Mas você está deixando de passar com a sua família, então acho justo. No Ano Novo eu me reúno com meu marido, filhos, filhas, netos, minha mãe e a sogra. Nesse dia eu não trabalho”, conclui Débora.

A cozinheira Débora Regina da Silva
Alegria e acolhimento
Depois de uma experiência, fazendo um serviço extra como garçonete em um buffet, Rosana Iapichino se apaixonou pela profissão, e deixou seu trabalho como CLT, para investir na nova carreira. “Acredito que todo trabalho é digno. Sempre fiz com amor. Tenho um carinho muito grande de estar ali, servindo. É uma felicidade eu estar nessas datas, como o Natal, com os meus clientes. Para mim é divertido eu tiro até foto com o Papai Noel, que vai distribuir o presente das crianças. Nesses anos eu sempre tenho uma outra colega trabalhando comigo, e a meia-noite a gente se cumprimenta. É um ambiente de alegria. Servimos a ceia e depois deixamos tudo arrumado para o dia seguinte.”
Ela explica que, desde criança, comemorava o Natal na casa dos tios. “Depois casei, e continuamos a tradição da família do meu ex-marido. E desde que me separei, minhas filhas passam a data com os primos e tios paternos. Quando eu ainda não trabalhava como garçonete, fazíamos o almoço em casa. Hoje nos reunimos em outros momentos. Costumo jantar com a minha mãe no dia 25. Eu vejo que a minha família compreende. Esse ano, minha filha tirou férias em dezembro, o que não é comum, e veio passar a semana aqui. Fizemos até amigo secreto.”
Rosana afirma que nunca encontrou problemas com a remuneração do Natal. “Eles são cientes de que a gente está deixando a nossa família pra servi-los. Graças a Deus, nesses 15 anos, fui acolhida com muito carinho. Essa remuneração é importante para mim, porque chegam os meses de janeiro e fevereiro, onde as festas já não são tão cotidianas e tenho que me organizar financeiramente, para esse período de baixa.”

A garçonete Rosana Iapichino
Doação ao próximo
Acostumada com o revezamento em escala, Lucélia Fernanda da Silva Marcelo, enfermeira clínica da emergência pediátrica do HCM, atua, apenas no período noturno, há 15 anos, e assim será, novamente, na noite de Natal. “Acabamos construindo uma família também chamada ‘trabalho’, a família ‘Funfarme – HCM’. Durante todos esses anos, foram poucos os que estive com a minha família para uma ceia.”
Ela conta que, na rotina hospitalar, a data acaba sendo uma noite como outra, por ser um trabalho essencial. “Porém, observo que muitas famílias ficam mais sensíveis quando estão lá, pois, talvez, seja um momento de fragilidade.”
Para Lucélia, a profissão requer essa doação de certos momentos. “Quando se escolhe é como se você já estivesse preparado. Não vou dizer que é fácil, mas nos colocando no lugar do outro para esse cuidado. Talvez possa dizer que seja uma doação, uma aptidão com o cuidado ao ser humano que está precisando naquele momento.”
A família da enfermeira já sabe que terá a presença dela apenas no almoço do dia seguinte, seja Natal ou Ano Novo. E os momentos em família são sempre bem aproveitados, onde existe a compreensão do trabalho que ela realiza.
“Estar longe de toda família e amigos, na ceia, é uma questão de momento. Quando sabemos que há um revezamento justo isso torna o trabalho leve, mas quando tem injustiças onde um sempre vai trabalhar e o outro fica de folga torna-se um sentimento de indignação. Mas, seguimos, pois, é o trabalho escolhido e assim cumprimos a missão. Devemos ter discernimento do que é necessário em nossas vidas”, finaliza Lucélia.

A enfermeira Lucélia Fernanda da Silva Marcelo
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