Saúde
Hipertensão não se resume em ingerir muito sal
Artigo escrito pelo Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel
Quando pensamos em hipertensão arterial, imaginamos aquela cena típica: uma pessoa que não abre mão de acrescentar bastante sal aos alimentos. Esta realidade é muito frequente, principalmente nos países ocidentais, nos quais os alimentos são consumidos na forma preparada -cozidos, assados ou fritos, em conjunto com uma quantidade descontrolada de sal e condimentos.
Na natureza, é intrigante notar que o sal não faz parte das dietas e, mesmo assim, uma espécie se alimenta da outra, seguindo o curso natural de uma cadeira produtiva, focada na sobrevivência e na hierarquia. Os animais maiores e mais imponentes devoram suas presas, alimentam suas crias e não utilizam sal para temperar a carne e os vegetais.
Isto mostra que, de certa forma, a humanidade criou certa dependência do sal e, inevitavelmente, algumas consequências deste consumo exagerado do sal irão ocorrer, como a hipertensão arterial.
No entanto, a hipertensão arterial nem sempre obedece a um rigor matemático, ou seja, não ingerir quantidades exageradas de sal não significa isenção dos picos de pressão. Existem muitos fatores independentes do consumo de sal que podem desencadear este descontrole da pressão arterial.
Uma primeira situação que deve ser citada é que ingerir sal também pode acontecer mediante o consumo dos alimentos doces. Esta questão é frequentemente debatida no consultório de cardiologia, já que as pessoas costumam afirmar que reduziram os alimentos salgados e não compreendem o porquê de continuarem apresentando picos de pressão.
Assim, todos nós precisamos ter consciência de que os alimentos doces são aqueles com concentração predominante de açúcar, mas, ainda assim, existe teor razoável de sal na sua composição. Isto pode acontecer em bolachas, bolos, sorvetes e massas em geral de sabor eminentemente doce.
Isto posto, deve-se buscar a prevenção da hipertensão arterial não somente reduzindo o consumo de alimentos salgados, mas também controlando a quantidade de alimentos doces.
Realizar atividade física de forma periódica produz incontáveis benefícios para a saúde cardiovascular.
Retomando a correlação com a natureza, sabemos que os animais e o próprio ser humano não nasceram para permanecer em posições fixas, sem deslocamentos ou movimentos corpóreos ativos. Uma das principais vantagens da atividade física consiste em melhorar a capacidade orgânica de eliminar toxinas e excesso de líquidos acumulados no corpo.
Muitas pessoas queixam-se de retenção líquida e este quadro pode ser facilmente percebido pelo edema na face (formato de lua cheia), edema de membros inferiores e pela sensação de “peso” no corpo. Esta retenção líquida pode ser confundida com aumento de peso corpóreo por acúmulo de gordura.
O sedentarismo, além de contrapor frontalmente a natureza humana e as necessidades de sobrevivência, dificulta a eliminação do excesso de líquidos corpóreos. Simplesmente pelo fato de não praticarmos atividade física regulamente, não conseguiremos eliminar adequadamente as toxinas e resíduos de nosso metabolismo e, desta forma, nosso coração precisará trabalhar mais para manter as funções em um organismo “pesado”.
Este trabalho adicional pode ser expresso pelo aumento progressivo da pressão arterial, mesmo que não haja consumo concomitante de quantidades expressivas de sal.
A obesidade é uma síndrome de natureza multifatorial e, independente de qualquer especulação, deve-se destacar que ninguém é obeso por querer ser obeso e que nem toda pessoa obesa consome alimentos de forma desenfreada.
Um organismo humano com uma massa de gordura acentuada tende a apresentar maior retenção líquida, fluxo sanguíneo mais lento, maior viscosidade do sangue e, como consequência de tudo isso, nosso coração precisa trabalhar com sobrecargas de pressão arterial.
Tornar-se obeso não está exclusivamente correlacionado ao simples consumo exagerado de alimentos salgados. Como já ponderado, a obesidade é uma condição de difícil dimensionamento, mas colabora decisivamente para o desenvolvimento ou agravamento da hipertensão arterial, mesmo sem associação com a ingestão exagerada de sal.
Caso ainda haja insegurança quanto a hipertensão arterial poder se desenvolver independentemente do consumo de sal, vamos analisar uma condição cada vez mais frequente: apneia do sono, ou seja, dificuldade de respirar ao longo do sono noturno.
Quem convive com alguém portador de apneia do sono sabe o quanto esta condição é angustiante. Ver seu marido ou sua esposa apresentando verdadeiros sobressaltos durante o sono tem mais repercussões do que se pode imaginar.
À medida que ocorrem estes sobressaltos durante o sono e a consequente dificuldade de respirar, nossa pressão arterial também oscila e, dessa forma, uma pessoa poderá desenvolver picos de pressão arterial e sobrecarga significativa do coração. Tudo isto sem estar necessariamente ingerindo quantidades exageradas de sal.
Podemos então compreender, diante de tantas evidências e constatações, que o consumo de sal tem papel importante no desenvolvimento da hipertensão arterial, mas a hipertensão arterial não se resume em ingerir muito sal.
Muitas pessoas podem desenvolver hipertensão arterial mesmo sem exagerar nas quantidades de sal. Portanto, para prevenir e melhor controlar os níveis de pressão arterial, não basta apenas remover o sal da alimentação.
É preciso tomar cuidado com a quantidade de alimentos doces, com o sedentarismo, obesidade e apneia do sono. A eficácia da prevenção dos níveis de pressão arterial depende de um manuseio conjunto de todos estes fatores citados e não somente atribuir ao consumo de sal este protagonismo exclusivo.
Caso queira ler mais sobre saúde do coração, acesse meu site: https://coracaomoderno.com.br.
Prof. Dr. Edmo Atique Gabriel. Cardiologista com especialização em Cirurgia Cardiovascular, orientador de Nutrologia e Longevidade e coordenador da Faculdade de Medicina da Unilago.
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